quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Estacionamento

Viajando no mesmo lugar
Hospedada em albergues de mesmo chão
Não escuto outras vozes
Apesar de tentar

Semeio dúvida e colho constância estacionada
Repetição, ciclo, rotina que almeja aventura
Porém, miúda,
Permanece calada

Trilho trajetórias distintas
Numa mesma estrada delimitada
Com o caminho de pedras velhas que (em vão)
Insistem em questionar
A minha viagem no mesmo lugar

Não sei se me rendo
Às tentações de me soltar
Do antigo viver de um só tom acostumado

Deveria temer em arriscar
Meu mundo são
Estacionado?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Despediram-se rápido

Primeiro post!
Dedico esse blog a toda criatividade que suspirar nos meus ouvidos palavras e textos que me façam sentir qualquer coisa. Dedicoo blog com o sólido objetivo de me dedicar e não abdicar das vontades aleatórias de escrever ou digitar. Dedico a mim, a você; aos poucos que conhecerão esse lugarzinho no meio do buraco negro de caracteres.
*
Despediram-se rápido. Os olhares encararam os pés um do outro. A timidez incoerente com o contexto finalizou a demorada visita. Ela o deixou sem sorrir, só esboçando uma atitude relativamente satisfeita. Ele não quis transparecer a sensação de quase abandono que o fim do encontro trazia, então suspirou um murmúrio de adeus contido.
Isabella se afastou. Deixou, confusa, o edifício comercial. As pernas trêmulas denunciavam a miscelânea de emoções. Havia tido um bom desempenho? Representara bem o seu papel? Estariam satisfatórias sua aparência, suas roupas novas e seu charme ensaiado? E assim, errante, caminhou na calçada apinhada de um bairro distante de casa.
Eduardo finalmente sorriu. Aliviou-se por interromper o disfarce de homem distinto e preparou um café. A sala de escritório febrilmente organizada já não gozava com a presença dela – a da mulher atraente e decidida, que deixara ali seu perfume barato, porém, envolvente. Tomou o café, sentou-se e emitiu um brilho indefinível no olhar.
Ela entrou no carro, implorou para que funcionasse e pôde partir para o lado oposto da cidade. Todo o luxo encantou a mulher duas - caras que agora dirigia com pressa. A sala, os elevadores modernos, os sorrisos com muitos dentes das pessoas que ali trabalhavam. E, principalmente, o homem com quem havia passado proveitosos sessenta minutos. A tarde impôs sua despedida e as sombras cobriram a cidade.
Ele fitou o relógio de pulso e, subitamente, levantou-se da poltrona cruelmente confortável. Não percebeu os quinze minutos fugirem de seu controle ao entornar o café fraco e divagar a respeito de Isabella. Indagou-se se ela não seria perfeita e analisou o encontro dos dois. Cada gesto, palavra, olhar. Talvez representassem algo. Ele só não sabia o quê.
Enquanto ela se enfurnava no trânsito mal humorado de sexta, um homem mal vestido, sentado num táxi atrás do carro de Isabella, bocejava um cansaço da noite mal dormida. Nenhum carro se movia na Avenida Rio Branco. Pedro coçou a barba farta e pediu inutilmente para que o taxista andasse mais rápido. O homem olhou o outro pelo retrovisor, exibindo reprovação pelo pedido e pela aparência desprezível de Pedro. Como um homem daqueles poderia pagar mais de 30 reais por uma corrida de táxi e, ao mesmo tempo, andar como um lunático que parou no tempo?
Após buzinar e mascar três chicletes, Isabella abandonou o estresse do trânsito. Chegou à rua da vila onde morava, estacionou o carro no lugar de sempre. Entrou na casa cor de pêssego, trancou a porta e suspirou. Um dia aparentemente proveitoso. Continuou insegura quanto a sua performance no escritório de Eduardo (como ela o deveria chamar?), mas decidiu tomar banho e esperar algum telefonema. Amanhã? Daqui a duas semanas?
Pedro se aproximou da Tijuca e tateou os bolsos à procura de 42 reais. Para ele, o dinheiro não lhe faria a menor diferença. Sempre preferira gastar mais com táxis a compartilhar assentos com estranhos em grandes carros balançantes. Pagou, andou o resto da rua tranqüila e chegou à vila de número 115. As doze casas apresentavam tons claros e a sua era colorida de verde-limão. A casinha cor de pêssego, que agora mostrava luzes acesas, ficava à esquerda da azul, a qual se situava exatamente na frente da de Pedro. Ele caminhou até a casa verde, abriu a porta e olhou de relance a casa que chamava de “meu pêssego.”
*