terça-feira, 27 de novembro de 2007

Noticiário pitoresco

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Estranho seqüestro de Dercy Gonçalves

Às vésperas de completar 129 anos, Dercy Gonçalves ainda está desaparecida.A sorridente comediante foi surpreendida em sua própria residência enquanto sua acompanhante tomava banho e o porteiro assistia ao jogo Brasil x Argentina. O nome da seqüestradora ainda não é sabido, mas as câmeras do circuito interno revelam uma senhora de cabelos grisalhos com uma inconfundível tatuagem na perna esquerda.Dercy está há suas semanas presa, e o pedido de resgate não é nada simplório: 10 mil reais em dinheiro vivo. Como Dercy não possui muitos familiares, é bastante provável que a seqüestradora misteriosa não tolere muito tempo e faça logo o serviço que Deus tanto demorou a executar.

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Jovens de 17 anos provocam reboliço no Palácio da Algazarra

Estudantes de um renomado colégio católico de Brasília organizaram um protesto contra o sistema de cotas. Ontem, esses jovens conseguiram, de fato, chamar atenção. Após tapearem seus professores, escaparam das aulas e utilizaram o carro do diretor da escola Sr. Gumercílvio Silva, para chegarem ao Palácio. Pequenos porcos de pelúcia e rolos de papel higiênico usados foram arremessados em direção ao gramado. O organizador do protesto foi o estudante Bernardo Peixoto, que acaba de ser expulso do colégio. Por conta de vandalismo e furto de automóvel, os sete estudantes serão interrogados e conversarão com o Ministro da Educação, Sr. Analfabelardo Pinto. Os porcos de pelúcia foram recolhidos e devidamente doados a orfanatos das cidades satélite.

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Trabalho de grupo da sexta série, por aí. Textos by me. Hahaha!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Victoria's Secret

O segredo de Victoria
Ninguém ousa desvendar.
O misterioso mundo rosa
Não se abala, só pensa em recrutar
Criaturas bobas, verdinhas, que há pouco pulsam
E desejam a existência
Preciosa

Esse segredo fascina os olhos das meninas
Atrai, sugere com brilhos mil
Um perfume artificial de cereja
Insinua uma estética vil,
Suposta forma de expressão.
Porém, fez-se mister
Uma produção em série alucinada
De bonequinhas de luxo vão

O segredo de Victoria é só mais um
Entre os artifícios e brinquedinhos assaz envolventes
Que seduzem e sugerem que isto é melhor que aquilo
O que deve ou não ser consumido
Apenas por conta de graciosos títulos

Por que valorizar somente
O impecável-especial-caro-demais?
Essa mania afoga, assopra
A chama morna e tímida
Que ainda acredita na diva escondida
Por trás de tanta pompa e quero-mais.

sábado, 10 de novembro de 2007

Inimiga do pensamento

Nunca se envolva com uma pessoa que já te deu motivos suficientes para se afastar. Essa e outras frases se repetiam diversas vezes na minha cabeça quando eu não deveria estar raciocinando.
A ação é inimiga do pensamento. Outra afirmação se reunia às dezenas de frases prontas ou elaboradas por mim mesmo. Mas essa última era e sempre será um lema, uma lei, uma constante e algo que me determina, me define. A agitação da minha vida é facilmente explicada como um escape frustrado para que eu não possa me frustrar. Aja, corra, se movimente, trabalhe, dance, desenhe.
Tudo para não pensar. Tudo para fugir da reflexão, do tédio que é analisar pessoas e atitudes das mesmas. Qualquer coisa para fugir de filosofias baratas, de constatações inúteis sobre a existência, de conclusões errantes sobre a vida, tornando-a assim, banal e mundanamente desinteressante. Não pense, não pense. Faça. Não sonhe, seja.
Escolha algum esporte e pratique-o fervorosamente, nade, beba, coma, compre. Mas principalmente, corra, desenhe e fotografe. Esses pensamentos freqüentes, e para mim, bastante naturais, me invadiram enquanto eu vasculhava minha carteira a procura de alguns trocados. E ao invés de encontrá-los, o que vi foi uma foto sua.
Você sorria com naturalidade e eternizava um momento único e só vivido uma vez, como toda e qualquer experiência da vida. Era o seu aniversário de 20 anos. Eu estava atrás da câmera. Seu ex namorado. Seu ex qualquer coisa. Antes de poder sentir qualquer sinal nostálgico, fechei a carteira com agressividade, sentindo-me patético. O trocador do ônibus ainda me encarava com ar de reprovação e não parecia disposto a esperar mais do que três segundos.
Enfiei a mão no bolso e finalmente achei o dinheiro. Sentei-me no banco alto do ônibus (o que você mais gostava) e me lembrei de nosso aniversário de namoro. Estávamos discutindo e você, levemente alterada por goles de vinho barato, acenou para o primeiro ônibus que passou e se despediu com palavras grosseiras. Eu te segui e nos sentamos no banco alto. Você me olhou e sorriu. Já estávamos de bem.
Um ruído longínquo visitou meus ouvidos quando uma senhora obesa puxou a cordinha do ônibus. Despertando do meu doce devaneio, comecei a sentir pena de mim mesmo. Mas não sei se era exatamente pena. Parecia mais arrependimento. Um vestígio de saudade, um sentimento reprimido forçosamente por atividades que eu impunha a mim mesmo. Um sentimento mal resolvido, sobretudo.