Nunca se envolva com uma pessoa que já te deu motivos suficientes para se afastar. Essa e outras frases se repetiam diversas vezes na minha cabeça quando eu não deveria estar raciocinando.
A ação é inimiga do pensamento. Outra afirmação se reunia às dezenas de frases prontas ou elaboradas por mim mesmo. Mas essa última era e sempre será um lema, uma lei, uma constante e algo que me determina, me define. A agitação da minha vida é facilmente explicada como um escape frustrado para que eu não possa me frustrar. Aja, corra, se movimente, trabalhe, dance, desenhe.
Tudo para não pensar. Tudo para fugir da reflexão, do tédio que é analisar pessoas e atitudes das mesmas. Qualquer coisa para fugir de filosofias baratas, de constatações inúteis sobre a existência, de conclusões errantes sobre a vida, tornando-a assim, banal e mundanamente desinteressante. Não pense, não pense. Faça. Não sonhe, seja.
Escolha algum esporte e pratique-o fervorosamente, nade, beba, coma, compre. Mas principalmente, corra, desenhe e fotografe. Esses pensamentos freqüentes, e para mim, bastante naturais, me invadiram enquanto eu vasculhava minha carteira a procura de alguns trocados. E ao invés de encontrá-los, o que vi foi uma foto sua.
Você sorria com naturalidade e eternizava um momento único e só vivido uma vez, como toda e qualquer experiência da vida. Era o seu aniversário de 20 anos. Eu estava atrás da câmera. Seu ex namorado. Seu ex qualquer coisa. Antes de poder sentir qualquer sinal nostálgico, fechei a carteira com agressividade, sentindo-me patético. O trocador do ônibus ainda me encarava com ar de reprovação e não parecia disposto a esperar mais do que três segundos.
Enfiei a mão no bolso e finalmente achei o dinheiro. Sentei-me no banco alto do ônibus (o que você mais gostava) e me lembrei de nosso aniversário de namoro. Estávamos discutindo e você, levemente alterada por goles de vinho barato, acenou para o primeiro ônibus que passou e se despediu com palavras grosseiras. Eu te segui e nos sentamos no banco alto. Você me olhou e sorriu. Já estávamos de bem.
Um ruído longínquo visitou meus ouvidos quando uma senhora obesa puxou a cordinha do ônibus. Despertando do meu doce devaneio, comecei a sentir pena de mim mesmo. Mas não sei se era exatamente pena. Parecia mais arrependimento. Um vestígio de saudade, um sentimento reprimido forçosamente por atividades que eu impunha a mim mesmo. Um sentimento mal resolvido, sobretudo.
sábado, 10 de novembro de 2007
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Um comentário:
Mii o início começou bem crônica, adorei =)
Aí virou narrativa, mas eu preferia a crônica!
.
Vou estudar..
Te amo muito!
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