sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

"Says she's a poet
This time she's gonna blow it
'Cause she's dancing with her ego
She took a vow of silence
When she reads her work to me
She swallow words like a
Placebo"

nunca esses versos foram tão adequados.
~

Os pedidos chegaram e ela provou novamente o picadinho francês de legumes batizado com nome chique. Tudo que era francês era chique. O gosto, todavia, desagradava as papilas gustativas da mulher. Resolveu engatar uma conversa mais longa do que os comentários esparsos do início da noite. Perguntou o que ele tinha achado do filme. Eduardo respondeu que havia sido legal (para total aborrecimento de Alice).

- Legal??
- Certo, foi o melhor filme que já assisti. – a voz era, mais do que nunca, sarcástica.
- Não pode dizer isso de forma mais romântica?
- Foram as melhores duas horas da porra da minha vida!
- Muito melhor! – sua aprovação era sincera.

O ratatouille ganhou mais sabor.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Desconfiado?

Você acorda. O corpo inteiro descansa. Nada se move. As pálpebras grudadas pesam, cismam em fechar. É o espetáculo da sua fraqueza nos instantes de preguiça irracional. Você não quer ninguém por perto: o despertar requer uma privacidade inabalável. Apenas as cobertas e os números digitais do despertador deveriam te encarar. 5:47. Uma solenidade se desenrola, mas o contexto parece negligenciar esse seu momento.
Um som tímido desperta sua atenção. O corpo permanece imóvel. Alguém está no quarto. O ambiente encolhe, tudo se torna subitamente úmido. Uma respiração ofegante. Você sente o cheiro de perigo. Abruptamente, abre a gaveta. O braço esticado tateia um objeto no fundo e a poeira toca seus dedos.

Besteira qualquer. Vento, vulto, estalos que ninguém explica.






Desconfiado?